11.6.10

Um certo livro

Imagem retirada do "Jornal Público"

Cacho Salinas odiava os frangos, as galinhas, os patos, os perus, qualquer bicho que tivesse penas, mas mesmo assim parou diante do grelhador onde rodavam lentamente uns quarenta broilers, alinhados como os soldados cibernéticos de A Guerra das Estrelas.
_ Como estão os frangos? _ perguntou ao vendedor que meditava, perdido nas páginas desportivas de um jornal.
_ Em pêlo, mortos, como quer que estejam?_ respondeu o aludido.(…)
Desculpa se fui malcriado, mas fodem-me a cabeça todo o dia, seja queixando-se dos frangos, seja pedindo-me os currículos. (…)
O vendedor tinha sido, e era, comunista_ porque isso é como uma verruga moral que nunca se arranca _, precisou. Também era retornado ao país após dez anos de exílio na Suécia. Suspirava ao referir-se a Gotemburgo, às suas ilhas, ao mar cor de aço, àquelas mulheres que_ especificava _ escolhem livremente e com alegria o macho que desfrutará da cama Ikea e com quem não há truque que valha.

A sombra do que fomos, Luís Sepúlveda

Mais aqui.

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